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Seja dinheiro, documentos, informações ou cultura, tudo o que pode ser transformado em dados digitais e trocado entre pessoas e empresas ganha agilidade e robustez por meio dessa tecnologia
Com o surgimento do blockchain, passou a ser possível transacionar qualquer tipo de informação digital, seja dinheiro, documentos que comprovam posse de bens, registros de importação e exportação ou mesmo músicas e filmes, sem intermediários centralizados e garantir que a informação é atual, válida e rastreável até à sua origem.
Como o nome em inglês indica, blockchain é uma cadeia de blocos de informações digitais, composta pela combinação de técnicas de computação, como carimbo de tempo digital e algoritmos criptográficos, que garante a imutabilidade e a inviolabilidade das informações registradas na cadeia. Essa cadeia de blocos é replicada para outros computadores da rede e quando um usuário transfere dados para outro, a transferência é validada por todo o conjunto. Uma vez registrada na cadeia de blocos, aceita e validada pela cadeia, a transação não pode mais ser alterada, o que garante a segurança do sistema.
Desde o surgimento do blockchain, em 2008, dezenas de setores, de educação a logística, se apoiaram na tecnologia para ganhar agilidade, transparência e segurança. O resultado é que o investimento mundial em soluções utilizando a tecnologia vai dobrar em 2018, na comparação com 2017, segundo a consultoria IDC. Vai chegar a US$ 2,1 bilhões e, em 2021, estará muito mais alto: vai alcançar a casa dos US$ 9,2 bilhões. São soluções que mudam a infraestrutura do mercado, principalmente em aplicações que, tradicionalmente, dependem de intermediários.
“O blockchain é um dos pilares em que nós apostamos, assim como a inteligência artificial”, afirma George Marcel Smetana, especialista do departamento de pesquisa e inovação do Bradesco. “É uma tecnologia que tem um potencial disruptivo, ligado a novos modelos de negócio, e porque permite redução de custos, otimização de processos e melhora da operação”.
Rede privada
O Bradesco estuda a tecnologia desde 2015. “Podemos usar blockchain em empréstimos corporativos, seguros, registros de ações, prevenção a fraude, mercados de capitais, compartilhamento de informações em geral e identidades digitais seguras”, afirma Marcel.
Em geral, os negócios do mercado financeiro e de seguros são melhores atendidos por soluções com blockchain privado, cujo acesso à rede e às informações é controlado pelas organizações que o gerenciam. No blockchain público, qualquer pessoa pode instalar o software, enviar e receber transações e participar do processo de consenso, já no privado esse acesso é restrito para os participantes da rede criada.
O Bradesco participa ativamente do grupo de trabalho de blockchain da Federação Brasileira de Bancos, a Febraban. “Desenvolvemos algumas provas de conceito nas áreas de prevenção à fraude, moedas digitais, registro e compartilhamento de informações e compartilhamento de cadastro mediante autorização do cliente”, conta Marcel.
O consórcio de blockchain R3, formado por mais de 120 instituições financeiras de todo o mundo, foi criado para estudar colaborativamente a aplicação da tecnologia principalmente na indústria financeira. “Blockchain é uma tecnologia que permite imutabilidade, rastreabilidade e maior segurança das transações”, explica Keiji Sakai, diretor geral do R3 no Brasil.
O R3 nasceu nos Estados Unidos em 2015. Mantém quatro escritórios no mundo, incluindo um no Brasil, aberto em 2017. “Temos muita proximidade com o Bradesco, que é um dos nossos principais clientes”, afirma Sakai.
A startup desenvolveu uma plataforma de blockchain, denominada Corda, que vem sendo utilizada por grandes instituições financeiras para o lançamento de novos produtos e serviços. Ela foi concebida seguindo os principais requisitos do mercado financeiro e dos reguladores em âmbito global, utilizando código aberto, com desenvolvimento colaborativo.
Além disso, a R3 é parceria do Bradesco no uso de blockchain para simplificar o processo de registro de títulos privados de captação. A iniciativa foi concebida e desenvolvida dentro do laboratório do Bradesco, o Inovabra Lab. Quando finalizada, ela será aberta para a participação de outras instituições financeiras.
Logística reversa
O Inovabra Habitat, ecossistema de coinovação mantido pelo Bradesco, em São Paulo, oferece uma série de exemplos práticos da aplicação do blockchain – um dos eixos de atuação do espaço, que também abrange API, inteligência artificial, computação imersiva, internet das coisas (IoT) e big data. A sede da R3 no Brasil, aliás, está instalada dentro do Inovabra Habitat. “Estar aqui é essencial, pois conseguimos estimular discussões sobre o uso de tecnologia em cima de soluções que estão sendo criadas por outras empresas ou corporações. É muito enriquecedor tentar encontrar soluções para desafios conjuntos”, ressalta Keiji Sakai.
Outra empresa habitante do espaço é a EuReciclo, que trabalha para registrar a logística reversa da reciclagem de embalagens nas empresas. De acordo com a legislação ambiental brasileira, todas as empresas devem se responsabilizar pela logística reversa de suas embalagens pós-consumo, ou seja, devem garantir que tirem da natureza o equivalente em resíduos gerados por seus produtos Para dar conta desse desafio, a startup desenvolveu o selo EuReciclo, que certifica o sistema de logística reversa no Brasil, rastreando e checando a consistência de notas fiscais emitidas no processo de reciclagem e, com tudo certo, certificando sua empresa e adequando-a à lei.
“Para as gigantes de mercado, é difícil saber para onde foram as suas embalagens e como retirá-las do meio ambiente. Mas já existe uma cadeia que faz isso, baseada em catador, cooperativa, ferro velho – gente que já executa o trabalho de reciclagem, mas não recebe devidamente por isso”, explica o fundador da empresa, Thiago Pinto. “Nós rastreamos essa cadeia, usando a tecnologia de blockchain, e ao fazer isso conseguimos certificar que uma tonelada entrou como garrafa pet de um lado e saiu como matéria-prima do outro”, continua ele.
“Vendemos esse certificado. Entramos nessa lógica de poluidor/pagador comprando uma compensação ambiental do reciclador/recebedor. Fazemos um meio de campo entre os dois e certificamos os recicladores”, contextualiza Thiago, explicando que seu sistema permite que as empresas paguem as cooperativas para retirarem do ambiente uma quantidade equivalente de material ao das embalagens de seus produtos – uma ideia de compensação ambiental que exemplifica o grande poder de transformação do blockchain.
Fonte: Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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